Seus olhos verdes eram hipnotizantes.
Me encaravam, sem pressa, com gentileza
Ao mesmo tempo que desvendavam até o mais profundo da minha alma
Penetrantes...
- Como nunca antes tinha visto -
E eu somente me rendia,
Sem escolha,
Caindo,
Caindo,
Cada vez mais,
E mais...
- Como uma tola -
E pensava por fim,
No meu mais profundo âmago:
Aonde isso vai me levar?
- O tempo vai me dizer -
E por enquanto, espero.
Espero,
Observo.
Só conseguia me lembrar de amores expressos. Só que no meu caso, em vez de latas de abacaxi, era aquela série better call saul. Então coloquei na minha cabeça que ia assistir as 6 temporadas e esse ia ser o tempo dele voltar comigo. Afinal, era uma de suas séries favoritas.
Mas é quase impossível não ficar ansiosa em tempos que a ansiedade reina sobre a nossa sociedade e essa minha ideia durou apenas dois episódios de mais ou menos 40 minutos.
Olhei o instagram e o whatsapp pela última vez: sem respostas. E como já tinha feito inúmeras vezes, quis me comparar com outras pessoas, essas que meus delírios de baixa autoestima me disseram que eram melhores, mais bonitas e principalmente mais desejadas por ele.
Então deitei na cama e só consegui me afundar em tristeza com minhas próprias lágrimas. Batidas na porta me interromperam e logo identifiquei a voz de meu pai abrindo lentamente aquela porta e quase como um carinho, colocando sua mão quente nas minhas costas mas apenas pra dizer que a culpa daquilo tudo era minha, por eu ser segundo ele, uma pessoa muito difícil de se lidar.
Engoli o choro e por um instante refleti sobre a culpa daquilo tudo realmente ser minha, afinal deve ter algum motivo pelo qual as pessoas não se aproximam de mim, eu devo ser uma pessoa muito ruim, e mesmo sabendo que no fundo isso não é tão verdade assim, acabei aceitando a ideia, já estava na merda mesmo e podia aguentar um pouco mais dor.
Tentei me recompor, mas fui atraída pelo chão de madeira que parecia quente e acolhedor, me sentei e me senti bem, como se não tivesse nada mais a perder.
E então começaram as ligações que eu julguei ser meu último recurso de tentar algum contato real, mas a cada tentativa frustrada, me encolhia mais num canto qualquer como se meu corpo não existisse mais, tudo era apenas dor e ilusão.
Fiquei ali assistindo você...
...indo embora para o meio da nevoa
enquanto eu sentia o vento frio e úmido que entrava pela porta
e observava tudo como uma pintura:
ao fundo, o final da rua, com algumas pobres almas fadadas a andar naquela noite sombria,
mais a frente, meu portão, dourado com arabescos sendo lentamente encoberto pela nevoa fina
enquanto que as poucas luzes difusas da rua tentavam iluminar a cena
e algumas pequenas flores rosas arroxeadas de primavera teimavam em aparecer, mesmo que timidamente,
e ainda assim, eu conseguia te ver nitidamente
em primeiro plano no meu quadro,
com a luz quente me envolvendo e o sentia o calor nas minhas costas
minha pele se aquecia enquanto aquele vento frio me arrepiava
formando quase que um equilíbrio perfeito
e só por um instante,
tudo esta perfeito
e eu só penso em abraçar minha solidão
e me ter como companhia, de novo
ainda bem
Nunca imaginei que eu com meus 28 anos iria acabar sofrendo por amor igual quando era adolescente.
E doi, como doi e é uma dor que vai te consumindo a cada dia, alguns menos outros mais, mas você sempre vai sentir que tem algo lá dentro te consumindo mesmo nos melhores dias.
Hoje parece que os tempos fizeram tudo ser pior, a internet é uma praga.
Você tem que desconfiar de tudo e todos e desse jeito o que sobra? Nada.
Apenas a sua angústia em meio a tudo que você pode ver e tudo que sua paranoia pode criar.
Amar nos tempos de hoje é um desafio intenso e se você não tiver preparado pras consequências, nem tente.
E pior, se você for a pessoa que já não consegue confiar normalmente nas outras, ai sinto dizer que você tá mais fudido ainda.
As vezes me pego sentindo falta dessas convivências caóticas
Por mais que não nos aturávamos,
Que não havia mais um desfrute de nossas presenças no mesmo ambiente,
Às vezes, e só as vezes, no meio desse caos, nós nos encontrávamos
Porque no final nossa convivência era tão entrelaçada, tão íntima
Que até hoje deliro que estou ouvindo algum comentário seu quando certas coisas acontecem
E me lembram de você.
Coisas que infelizmente só você poderia me conhecer tão bem para comentar
E isso só me comprova que ninguém é substituível
Ao mesmo tempo que outras pessoas me julgam
Por acharem que eu sou a vilã e substituo as pessoas
Mas na verdade estão tão presos no que veem
Que não sabem o que se passa por detrás do que você transparece
Me peguei mais uma vez pensando em desistir de tudo.
Mais uma vez, aquela sensação vazia de não conseguir me encaixar em nada nesse mundo,
Nessa vida.
Não sei o que fazer dessa vez,
E me colocaram tantos anos de expectativas,
Altas expectativas.
Algo que foi crescendo tão naturalmente que se tornou uma coisa cruel.
A crueldade em sempre colocar um alto nível em mim mesma,
Sendo que o que eu quero ser mesmo é uma pessoa normal,
Com uma vida simples,
Sem grandes coisas,
Apenas vivendo enquanto posso,
Aproveitando as pequenas e grandes coisas da vida,
Nada muito complexo...
Mas não. Não!
Tudo tem que ser quebrado,
Para se projetarem em mim,
As mais altas ambições e desejos,
Como uma extensão de suas miseráveis vidas.
Mas eu não estou aqui para isso.
Não posso me sucumbir a viver e ser o que os outros desejam.
Ainda estou aprendendo a lidar.
E cada vez mais isso me assusta, agora que consigo ver o que esta se tornando,
Algo cultivado já a muito tempo, que ganhou força
E só se mostrou agora.
Por enquanto apenas resisto e permaneço em estado de latência,
Sem saber o que fazer por fim.
